Divórcio, minissaia e revolução cultural

terça-feira, setembro 22, 2009

Pergunta — Se em um casamento não há mais compreensão entre os cônjuges, e ambos decidem que o divórcio é a solução, como se deve proceder? A pessoa está fadada a viver sozinha para o resto da vida? Ou ainda tem que viver o casamento, que por si só foi um desastre?


Resposta do Mons. José Luiz Marinho Villac — A consulente nos apresenta um problema para o qual a solução é realmente uma só: o heroísmo! Quer o casal dissolva o casamento –– e cada um dos cônjuges tenha a coragem de viver sozinho para o resto da vida –– ou ambos tomem a decisão de manter o casamento “que por si só foi um desastre”, ambas as soluções só são viáveis se cada um dos cônjuges, ou pelo menos um deles, resolver abraçar o heroísmo. Ora, o heroísmo é uma disposição de alma muito rara em todas as épocas, por isso mesmo todos os povos sempre cultuaram os seus heróis como seres excepcionais, que merecem uma honra toda especial. De onde se chega à conclusão óbvia de que o problema apresentado não tem solução, na imensíssima maioria dos casos, máxime em nossa época em que a observância habitual dos princípios e normas do catolicismo é quase tão rara quanto o próprio heroísmo. Então, é forçoso reconhecer que o problema não tem realmente solução... fora do heroísmo!


Nos seus termos sintéticos, essa situação é dolorosa e simplesmente assustadora para a maioria das pessoas que nela se encontram. Mas há algo mais a dizer, inclusive conselhos práticos, que desdobram esta resposta e ajudam as pessoas a enfrentar essas dificuldades. Fá-lo-emos a seguir.


A minissaia introduziu “um novo estilo de vida”


A primeira consideração a fazer é que a situação não era essa há 50 anos, pelo menos no Brasil. Já nos EUA, a introdução do divórcio levava aos casamentos sucessivos –– motivo de escândalo para todo o mundo –– noticiados avidamente pela imprensa, fazendo consciente ou inconscientemente a disseminação.


Mas certas forças atuavam conscientemente no sentido da dissolução dos princípios e das normas da moral católica. A introdução da minissaia é um exemplo característico, que marcou época. O almanaque de “O Globo”, que reuniu em fascículos os principais fatos do século XX, assim noticiou o acontecimento: “O público viu perplexo as saias subirem acima dos joelhos no desfile da coleção primavera-verão do costureiro francês André Courrèges, no inverno de 1965. Mas o sucesso da minissaia e do minivestido deveu-se em grande parte à jovem estilista inglesa Mary Quant, [...] que encolheu ainda mais a bainha das saias, popularizando a haute couture do mestre francês mesmo fora do continente. Não só a roupa mudava, mas a mulher que a vestia, com um novo estilo de vida” (op. cit., fascículo 23, p. 551 — destaque em negrito nosso).


Ficava claro, portanto, que a introdução da minissaia não era uma simples questão de moda, mas visava introduzir “um novo estilo de vida” para “a mulher que a vestia”.


Ora, segundo o ditado que tem muito de verdadeiro, a mulher faz o homem. Então não era apenas a mulher que adotava um novo estilo de vida, mas o homem também, já que pelos desígnios de Deus o homem e a mulher foram criados um para o outro, para a transmissão da vida e todas as outras metas para as quais existe a família. Assim, era um novo estilo de vida que se introduzia também na família, marcada agora pelo hedonismo, e portanto pelo egoísmo, pois a busca do prazer pelo prazer (hedonismo) é fundamentalmente egoísta.


Como esperar que esse novo estilo de vida, marcado pelo egoísmo, não desse no que deu? Isto é, o casamento, que antes durava “até que a morte os separe”, segundo a fórmula clássica, passou a durar apenas enquanto o egoísmo dos cônjuges o suportasse. Sobretudo depois da introdução do divórcio no Brasil em 1977, “legalizando” as separações que já se vinham fazendo de fato.


Portanto, a pergunta apresentada pela consulente não tem solução enquanto durar esse “novo estilo de vida”. Para que se torne possível uma solução, é preciso dar uma volta atrás nesse “novo estilo de vida”. Mas que passos imensos será preciso dar, para voltar atrás nesse e em muitos outros pontos...


Daí a convicção das pessoas retas e sensatas, de que isso só será possível com uma intervenção extraordinária da Providência, conforme tratamos na matéria desta coluna no mês passado (mais importante, aliás, do que terá pensado algum leitor desatento).


Alguns conselhos prudenciais


Enquanto não se der essa intervenção extraordinária da Providência, anunciada por Nossa Senhora em Fátima, é preciso ir tocando a vida para a frente, e a consulente agradeceria certamente que lhe déssemos alguns conselhos práticos.


O primeiro é considerar, em função do que acima expusemos, que o seu caso concreto não resulta apenas de circunstâncias pessoais peculiares ao casal. Os esposos devem compreender que o mundo todo está virado de pernas para o ar, e é nesse mundo que temos de viver, enquanto não se produzir a regeneração cristã da humanidade. Assim, um segundo casamento não resolverá nada, pois além de infringir os Mandamentos da lei de Deus e da Igreja, é muito provável que os problemas do primeiro casamento não tardem a reaparecer no segundo. Daí as notícias freqüentes de terceiro e quarto casamentos...


É mais prudente, portanto, tentar resolver as fricções que tornaram o primeiro casamento “um desastre”, segundo observa a missivista. Como dizem que o amor é cego, cada um dos cônjuges provavelmente fechou os olhos para os defeitos do outro, os quais depois se tornaram patentes. Além de ser muito comum, aliás, que durante o noivado cada cônjuge tenha ocultado seus defeitos, justamente com receio de pôr a perder o casamento.


Bem, e o que acontece quando não dá mais para ocultá-los? Cada defeito provoca uma irritação, e assim começa a “caça aos defeitos” do outro...


Conheço o fato de um casal em que um dos cônjuges se deu conta da situação, e disse ao outro: “Nós estamos a ponto de nos separarmos, porque cada um de nós só vê os defeitos do outro. Que tal se, em vez de só olharmos os defeitos um do outro, passássemos a olhar apenas as qualidades?” O casal se reabilitou, abandonou os planos de separação, e o convívio se tornou novamente harmonioso. Esta espécie de milagre ocorreu exatamente depois que lhes chegou em casa uma Medalha Milagrosa, e por meio dela receberam essa graça extraordinária.


Não é um exemplo que convida à imitação?


O divórcio e a doutrina católica Talvez aí esteja a solução, que pode ser obtida por meio de Nossa Senhora rezando o Terço (por que não o casal em conjunto, e se possível com os filhos?), usando uma Medalha Milagrosa ou um outro objeto religioso abençoado, que a Santa Igreja oferece em abundância. O heroísmo, que em medida maior ou menor é sempre necessário na vida de um católico, se tornará mais fácil de praticar, reduzido à altura de nossas forças atuais.


Entrar para uma via fora dos Mandamentos da Lei de Deus não é admissível. Desastre maior que esse, não há. Que Nossa Senhora do Bom Conselho os ajude a restabelecer a harmonia familiar e a andar sempre nas vias divinas da salvação.

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